
A história de um dos casais mais famosos da história nordestina acaba de ganhar mais um capítulo. Depois de uma jornada de décadas, os crânios de Virgulino Ferreira da Silva e Maria Gomes de Oliveira, Lampião e Maria Bonita, passaram por restauração por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), e vão integrar o acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo.
A expectativa da família é abrir o próprio museu futuramente. Os objetos, até então, eram guardados pela família, que detalhou a história à TV Globo.
O casal de cangaceiros e outros 11 integrantes do bando foram mortos em 28 de julho de 1938 por forças policiais. Procurados por todo o sertão nordestino, o grupo de Lampião foi pego em uma emboscada na Grota do Angico, em Poço Redondo (SE). Os soldados decapitaram as vítimas e as cabeças foram levadas e expostas em diversas localidades até chegarem a Maceió (AL).
De 1944 a 1969, as cabeças, que passaram por um processo de conservação, ficaram em exposição no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues, em Salvador (BA), até a família enfim conseguir o direito ao sepultamento. Lampião e Maria Bonita foram enterrados no Cemitério Quinta dos Lázaros, também na capital baiana, até passarem à guarda para a própria família.
Expedita Ferreira Nunes, 92 anos, filha do casal, passou a ser a guardiã dos crânios quando a família recebeu um aviso de que o cemitério passaria por reformar e os restos mortais poderiam ser perdidos. Durante quase 20 anos, os vestígios foram guardados em casa, em Aracaju (SE), sem os cuidados adequados como um segredo de família. “Guardava em casa, como se guarda uma roupa, como se guarda um sapato”, contou Expedita à Globo.
“Estavam todos os dois encaixotados. Nós trouxemos na própria caixinha que estava na gaveta e guardamos. E de vez em quando tirava para tomar um sol. Até então a gente não tinha ideia do que fazer”, relatou Gleuse Ferreira, 69, filha de Expedita.
Devido aos disparos, era quase impossível identificar o crânio de Lampião. “O do meu bisavô era um monte de caquinho, eu lembro que olhei e enxergava, sabe, coco seco? Essa é minha imagem”, descreveu a neta de Expedita, Gleuse Ferreira, 43, que leva o mesmo nome da mãe.
Os dois foram encaminhados ao Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em 2021, onde passaram por estudos, reconstituição e reconstrução em 3D. A família e a instituição selaram a parceria em um encontro no ano passado. O próximo passo para a família é reunir todo o acervo de memórias que restaram do casal, como armas, joias, um cacho de cabelo de Maria Bonita, e fotos. Os familiares estudam ainda a abertura do próprio museu daqui três anos. Correio Braziliense, USP Foto reprodução